Perdi um tesouro, perdi o meu filho — o meu choro era o urro de um animal ferido. Todo o meu corpo doía, perdi o meu emprego, e nada fazia mais sentido. Olhava para a casa, para o quarto e não o via. Entrei numa tristeza profunda. Mas decidi não desistir. Logo após alguns dias, mesmo enfrentando o luto, resolvi juntamente com profissionais psicólogos ajudar outras pessoas que passavam por alguma dor ou perda. No decorrer dos encontros vimos que muitos não conseguiam lidar com as suas dores sozinhos e acabavam desenvolvendo sérios traumas e doenças psicológicas, como a depressão. Foi aí que o encontro semanal transformou-se num projeto terapêutico, onde a roda de conversa e o compartilhar das experiências tornou-se processo essencial para entenderem que ninguém é ensinado a viver os seus lutos, por isso não tinham a obrigação de ser forte o tempo todo. Que o ser humano tem fragilidades e isso não é vergonha alguma! Que é preciso buscar ajuda quando necessário!
No emaranhado do nosso tempo, não adquirimos o hábito de pensar sobre o começo e fim das coisas. Tudo que imaginarmos tem começo e fim, tem a sua própria duração de vida. Enfrentamos dores, desilusões, preconceitos, traições e tudo isso traz vários sofrimentos, frustrações e traumas. Diante de qualquer perda tornarmos-nos minúsculos e impotentes. Depois da perda do meu filho, percebi o quantos somos frágeis e fortes em simultâneo. Não escolhemos o nosso destino, mas, temos a capacidade de escolher o que o destino nos oferece. E prescindir dessa liberdade. Por que não usar essa capacidade para sermos felizes? Não é uma decisão fácil, mas nos ajuda a conviver com as dores mais profundas.
Muitas vezes quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.
O luto
Ao perder alguém que amamos, perdemos também um pouco de nós mesmos. A morte não chega apenas para a pessoa que deixa esta vida, ela leva um pouco de quem nós somos, de como nós nos sentimos, e, de uma maneira estranhamente bela, ela também deixa um presente: a oportunidade de aprender e evoluir.
A ressignificação começa quando:
– Significamos tudo o que estamos sentindo
– Nos abrimos para o lugar de desconforto que é falar e pensar sobre o luto
– Organizamos o que descobrimos sobre nós mesmos
– Aceitamos que não seremos mais as mesmas pessoas
– Entendemos o que é preciso ficar para trás
– Recebemos o novo “eu” de braços abertos
– Dialogamos sobre os nossos sentimentos
– Olhamos para trás e enxergamos um novo sentido sobre o que vivemos.
Minhas leituras
Em uma das minhas leituras deparei-me com a explicação melhor dessa trajetória, Dr. Robert Neimeyer – psicólogo e autor especialista em luto – desenvolveu um processo que trabalha os 3 R’s de processamento do luto. Os conceitos por ele apresentados, nos leva a pensar a dimensão que existe na dor da perda.
São eles:
1- Recontar a história
2- Reconstruir o vínculo com o nosso ente querido
3- Reinventar as nossas vidas e a nós mesmos neste contexto